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“Ei, esse menino, o que você quer ser quando crescer? Quero ser pai!” Quem ainda na sua adolescência tem esse desejo? Aqueles que conhecem um pouco da minha intimidade sabem que tenho muito apreço pela paternidade. Desde pequeno, quis ser pai. Na minha cabeça, essa foi a principal missão que Deus colocou pra mim.
Na parte que conto um pouquinho da minha história, que você pode ler aqui, vai saber que temos 3 filhos. Diego com 22, Gabriel 19 e Victor com 12 anos. Nos orgulhamos também de que a maioria das pessoas que os conhecem dizem que são garotos “bem educados”. Posso, então, dizer que tenho certa experiência como pai? Vou considerar que sim. Aliás, confesso que quando criei o site eu também pensava em ajudar pessoas nessa área da vida, a familiar.
Longe de querer me auto declarar melhor pai ou melhor marido (vamos completar 26 anos de casados), simplesmente alguém que busca uma harmonia na vida como um todo, seja no desenvolvimento pessoal, familiar, financeiro, profissional, ou espiritual. Prefiro enxergar a vida como um processo de interminável aprendizado. Com isso, trago alguns hábitos que considero importantes para a educação, não só financeira, dos filhos.
A escassez financeira
Como pais e mães queremos o melhor para os nossos filhos, isso é inegável! Durante toda a vida, buscamos dar e entregar o que quer que eles pedem, na medida do possível, claro. Na fase de crescimento, no entanto, quando eles estão descobrindo como se locomover é natural eles ouvirem muitos “nãos”, pois coisas perigosas podem acontecer e, como pais, o fazemos pelo bem deles. Essa condição natural, no entanto, nem sempre ajuda no contexto geral porque à medida que eles vão crescendo os pais, para evitar tantos “nãos”, podem começar a dizer “sims” não tão convenientes, ou pior, se calam para evitar conflitos.
Penso que se calar, principalmente quando são filhos únicos, quando os pais se preocupam muito com discussões e buscando evitá-las, pode ser um erro. Os filhos precisam viver e entender a escassez de recursos financeiros, principalmente. Dar aos filhos tudo o que querem é um erro, na minha opinião. Você, na vida adulta, vai ter tudo que quer? Por que então não mostrar a realidade da vida para que os filhos possam aprender o quanto antes? Os recursos materiais e financeiros são limitados em qualquer momento da vida e essa realidade precisa ser mostrada inclusive para nossos pequenos e também para os nem tão pequenos assim.
Quem nunca ouviu o “está achando que dinheiro dá em árvore?”. Os pais precisam explicar, à medida que a criança vai crescendo, o mecanismo de limites e pagamentos dos cartões de crédito para que os filhos entendam que o cartão é apenas um meio de pagamento e que seu uso diminui o limite disponível e aumenta sua responsabilidade com a fatura.
Outro fator positivo da limitação de recursos para os filhos é a abertura de diálogo com o fim de negociar. O que cada lado pode considerar ceder para uma solução harmoniosa? E com a negociação vem a essência de um bom relacionamento, a comunicação (cuja falta é considerada uma das maiores causas de divórcios, junto com dificuldades financeiras, falta de intimidade, traições e dívidas).
Aliás, uma boa comunicação deveria ser essencial para qualquer relacionamento conjugal. Parece óbvio, mas por que não o fazemos? Ego, discussões, ciúmes, rancor, egoísmo. Impossível nomear uma causa apenas. Cada casal e cada um tem sua história. Se eu pudesse sugerir a todas as pessoas que respondessem a esta pergunta antes de se casar, talvez desse para evitar um bocado de divórcios. Você está preparado para abrir mão do “só eu” em prol de um necessário “nós”?
Exemplo triste de um caso real
Outro dia estava conversando com uma colega de trabalho aqui em Toronto, ela estava comentando sobre problemas familiares. Num determinado momento falou assim: “…minha única filha que cresceu tendo tudo na vida, voltou a usar drogas…”. Além da minha perplexidade com o relato, é claro que não se pode afirmar o motivo do uso de drogas com esse comentário apenas, o que me chamou a atenção foi: cresceu tendo tudo na vida. Seria esse o erro? Não posso afirmar isso, trago apenas para reflexão diante da emblemática frase.
Mesada/Semanada
5, 6, 8, 10, 12 ou 14 anos, quando devemos iniciar a educação financeira dos filhos com a mesada ou semanada? Não há uma regra específica, a criança precisa ter noção do que é e para que serve o dinheiro. Iniciei com os meus a partir dos 12 anos. Não sei dizer se é o melhor, poderia ser antes? Sim, mas também poderia ser depois. O importante é procurar sempre que possível introduzir vários conceitos e seus impactos, como juros, crédito, investimento, dívida, inflação, economia, orçamento, planejamento, trabalho, compras, etc. E sim, na minha visão, se você acha caro uma coisa ou serviço que está comprando, é válido se expressar. A criança se lembrará do momento no futuro e da sua opinião sobre o que está sendo comprado.
O valor da mesada/semanada também não tem regra, o ideal é fazer uma estimativa das necessidades que a criança ou adolescente precisa. Definir o que deve ou não entrar na conta e dar menos do que o necessário para cobrir as despesas. Os filhos precisam conhecer a escassez financeira para aprenderem a tomar decisões e saber que essas decisões têm impacto, têm consequência. A vida, de forma geral, é frustrante, eles também precisam conhecer a frustração de não ter o suficiente e procurar lidar com ela.
Dentre todos os conceitos citados no parágrafo acima o dos juros talvez seja o mais relevante. Até hoje me lembro, quando era pequeno, de perguntar mais de uma vez pra minha mãe o que era “juros”, não me recordo se ela não soube explicar direito ou eu não tinha capacidade de entender 🙂. De qualquer forma, precisamos crescer refletindo sobre o impacto da decisão de esperar para juntar o dinheiro e a decisão de não esperar e gastar e, quando não raro, se endividar.
Se Mesada ou Semanada, eu penso que semanada para crianças menores que não têm ainda noção de tempo, esperar um mês inteiro para elas seria bem duro! Tente agir nessa relação como um banco, se quiser um adiantamento, vai ter que pagar juros, se quiser poupar, você pai/mãe, paga os juros (claro, apenas algo simbólico dos dois lados credor/devedor ).
Não se deve incluir afazeres de casa na mesada. O que precisa ser feito, tem de ser feito: fazer a cama, arrumar o quarto, ajudar a lavar louça, arrumar a mesa, estudar, tomar banho 😀 tudo isso não deve ser retribuído em mesada, são obrigações dos filhos (pelo menos aqui em casa). Se quiser pagar seu filho por algum serviço, que não sejam os que mencionei. Um bom exemplo seria lavar o carro ou dar aula de matemática para o irmão mais novo.
Cuidado com o seu exemplo
Por mais que possa parecer importante o nosso conhecimento acerca das finanças, o que você fala nunca será tão valioso quanto o que você faz. E acredite, eles sempre estão de olho! Para o bem ou não. Penso que, aliás, isso vale pra tudo! Portanto, não adianta falar o que é certo ou errado se você não o faz realmente. Fazer lista de supermercado antes de ir, pesquisar o preço antes de uma compra importante; dependendo do item, não dar tanta importância a marcas; aproveitar descontos em itens de necessidade (coloquei em negrito de propósito), pedir desconto se achar que o preço está acima do mercado, e negociar.
Vale um parágrafo só para negociação. Precisamos estar sempre abertos a conversar e negociar. Ninguém conhece a realidade do outro, não sabe os perrengues ou dívidas que temos, não sabe o custo da minha hora e o valor que dou a ela. Um exemplo: meu filho faz Taekwondo numa escola aqui em Toronto, são $200,00 por mês. Negociei para pagar por 6 meses adiantados, resultado? Pago $1.000,00 pelos 6 meses! Onde vou conseguir 20% de rendimento em 6 meses? Por que não tentar negociar nas escolas dos nossos filhos no início do ano? Se você não tem costume de negociar ou tem vergonha, tudo bem, esteja pelo menos aberto a negociar quando a circunstância aparecer. Se fechar num paradigma que você ou alguém colocou na sua cabeça, sabe-se lá porque, é que deveríamos buscar evitar.
Para fechar, um outro parágrafo especial para você, pai ou mãe, relacionado ao exemplo que damos no dia a dia. Reflita. O que seu pai ou sua mãe faziam quando vocês ainda viviam com eles (e que você no fundo não gostava) que, surpreendentemente, você faz hoje? Aquele costume chato, aquele hábito inconveniente e que não ajudou em nada na vida deles como pessoa ou como casal? Se é que eles ainda estão casados… Agora tire as finanças da cabeça e pense em qualquer coisa – qualquer coisa mesmo.
Agora releia o parágrafo anterior pensando nas coisas positivas que seus pais faziam e que você faz hoje. Trago um caso real da força do exemplo: tenho dois primos que, desde pequenos, viam seu pai sair para correr de manhã cedo quase todos os dias. Hoje, ambos são corredores também. Embora meu tio já não consegue correr, continua caminhando e alimentando o hábito saudável, quem sabe agora para os netos… Assim, vale pensar no que fazemos hoje que pode inspirar ou decepcionar nossos filhos no futuro. Uma coisa já sabemos, o exemplo constrói mais que qualquer sermão, e pode ser lembrado para vida toda.
Então, está precisando de ajuda com os filhos para iniciar conversas sobre finanças pessoais? Estou aqui para isso também! Bora marcar um bate-papo inicial gratuito para entendermos sua necessidade?
Dúvidas ou sugestões? Gostaria de sugerir um tema ou assunto? Por favor, escreva para contato@euqueroprosperar.com.br
Um abraço e obrigado pela leitura!
Henrique Cintra Ribeiro, CFP®