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O trabalho do planejador financeiro é essencialmente ligado ao dinheiro, obviamente, às finanças de nossos clientes, à maneira como nos comportamos com o dinheiro. É interessante o quão desligadas da racionalidade boa parte das pessoas são quando decidem algo que envolve o dinheiro. Você sabia que o nosso comportamento com o dinheiro pode ser transmitido por gerações? O assunto dessa semana é uma proposta de reflexão sobre essa força que é o dinheiro. Dividi o texto em três partes: o dinheiro físico, as crenças que temos sobre ele e nosso comportamento com o dinheiro.
O papel moeda
Comecemos com o papel-moeda em si. Alguma forma de troca utilizando o simbolismo do dinheiro é usada há quase 5 mil anos e uma explicação simples do motivo de sua criação foi para facilitar a troca e o comércio de produtos entre as pessoas. Pensando em uma sociedade antiga onde houvesse excedentes de produtos e para evitar desperdício, perdas ou brigas e até mortes nas comunidades, o homem tratou de inventar algo que os ajudasse a conseguir gerenciar nossas necessidades, como disse, seja no nosso dia a dia, ou no comércio. Dentro dessa ideia, podemos dizer que o dinheiro é uma forma de acordo, um acordo entre as pessoas. Na realidade do século 21, é um acordo de que aquele papel moeda tem um valor intrínseco, aceitável por todos.
Importante dizer que essa abordagem sobre a moeda em si, que o dinheiro só tem valor na nossa relação com outras pessoas, ou seja, sem outros humanos para usar o dinheiro ele perde todo seu significado. De que adiantaria ter um bilhão de reais se você estivesse preso em uma ilha deserta? Talvez um dos aspectos mais injustos do dinheiro é que ele requer escassez para ser efetivo. Por isso, num cenário de inflação muito alta, descontrolada a quantidade de dinheiro perde o sentido, perde o seu valor, e as pessoas precisam cada vez mais de dinheiro ou papel moeda para poder comprar a mesma coisa. Aliás, cabe reforçar que esse é justamente o conceito de inflação: a perda do valor da moeda em circulação. Portanto, não adianta ser o dono da impressora de papel moeda se a quantidade em circulação corrói o poder de compra das pessoas, enfraquecendo nossa capacidade de consumir. Com muito dinheiro em circulação, os produtores serão forçados a aumentar preços para continuar ofertando-os, do contrário seus produtos somem das prateleiras muito rapidamente sem chance de poder repor na quantidade demandada, afetando a cadeia de produção. É a máxima econômica da oferta e demanda na veia!
Nossa crença sobre o dinheiro
Migramos agora para a crença que as pessoas têm acerca do dinheiro. Muito se ouve e se diz que o dinheiro seria a “raiz de todos os males”. Confesso que, em alguma parte da minha adolescência cheguei a concordar com essa afirmação, certamente por não refletir ou não perceber todos os impactos positivos que o dinheiro traz para o mundo. Como “notícia boa não vende jornal”, parte do que é noticiado hoje e sempre tem relação com o pessimismo, tragédias, assaltos, tráfico de drogas, crime organizado, desvio de dinheiro, corrupção e quase todos diretamente vinculados ao dinheiro (fácil perceber porque acreditava ser a raiz de todos os males). Há, inclusive, correntes de pensamento que dizem que o dinheiro é tentação, ele envenena relações, destrói famílias e consegue fazer pessoas boas se tornarem más.
Por outro lado, precisamos também mostrar a parte boa que o dinheiro constrói. Vejamos como as grandes corporações crescem quando conseguem servir a sociedade de alguma forma. A Microsoft seria o que é se não fossem seus sistemas e softwares, facilitando e agilizando nossas vidas? A Amazon seria a gigante que é se não te entregasse tudo que você quer na porta da sua casa em troca de dinheiro? Quantas milhares de pessoas, famílias e pequenos, médios e grandes negócios no mundo todo são conectados e beneficiados pelo comércio que ela proporciona? Quanto dinheiro é gerado e produzido por causa dela? O que dizer das empresas fabricantes de carros? Quanto benefício para o homem os carros nos entregam? Pense em como seria fazer doações ou caridades se não fosse o dinheiro para tornar a compra e distribuição de alimentos uma realidade. Isso me faz pensar se não deveríamos ser mais gratos pela existência do dinheiro…
Você sabia que o dinheiro é uma das palavras mais mencionadas na Bíblia Sagrada? Pare e reflita, por favor. O que me vem à cabeça depois de ler essa última frase é que devemos, no mínimo, ser responsáveis com o seu uso já que ele pode destruir vidas como já vimos. Não só isso, o dinheiro é apontado como uma das maiores causas de divórcios entre casais. Assim, creio que podemos concluir que não é que o dinheiro seja a “raiz de todos os males”, na verdade é o uso que damos a ele que precisa ser melhor pensado, direcionado e refletido.
Nosso comportamento e ele (o dinheiro)
Porque agimos como agimos em relação ao dinheiro? Uma resposta óbvia seria: porque somos todos diferentes. Sim, isso é fato, mas por que mesmo com todo conteúdo disponível em livros, aulas e vídeos, com tantos influenciadores com seus milhões de seguidores continuamos com as mesmas ou piores taxas de inadimplência, continuamos caindo em esquemas financeiros, nas apostas “enriquecedoras”, em armadilhas de investimentos que garantem algo que, no fundo, sabemos não ser possível alcançar se pararmos para refletir por 5 minutos. Minha resposta: porque é muito difícil desvincular o dinheiro das emoções.
No meu contato com outros planejadores financeiros e profissionais deste universo desde sempre, a métrica que não raro usamos é que somente 10% de nossas decisões financeiras são racionais. 10%! Claro que é um achismo baseado em experiência, mas mesmo que seja 20%, continua muito pouco, não? Existe alguma forma de mudar esse panorama? Acredito que, mesmo que alguém queira, é impossível transformar todas decisões financeiras em racionais, justamente porque não somos seres 100% racionais. Por que algumas pessoas têm mais facilidade ou dificuldade do que outras para tratar com dinheiro? Maior conhecimento? Melhores experiências de vida com o dinheiro repassadas entre gerações? Pais que tiveram pouco ou muito conflito por causa do dinheiro? Estresse? Angústia? Medo? Liberdade? Qual a sua principal memória na infância em relação ao dinheiro? Você tem alguém que admira com relação ao dinheiro? Porque gastar é muito mais divertido do que economizar? Essa é fácil! 🙂. Não é audacioso demais envelhecer sem ter a capacidade de custear sua sobrevivência? Por que será que o dinheiro geralmente gratifica as pessoas que conseguem diferir ou postergar (com juros) o que poderiam estar fazendo ou consumindo agora? Qual a maior lição que você teve na vida relacionado ao dinheiro e como isso mudou sua perspectiva hoje? Quanto você ganha como indivíduo é uma indicação do seu real valor? Será que o dinheiro valoriza a integridade da pessoa? Será que o dinheiro olha para a nossa motivação do porquê estamos gastando ou poupando? Seria o dinheiro um “ser” que controla ou olha para o nosso “eu” e nosso comportamento com ele? “Quer conhecer mesmo uma pessoa? Coloque muito dinheiro na mão dela que ela vai revelar quem realmente é”. Tendemos a ler essa frase com conotação negativa, mas quem disse que só pode ser negativa? Muitas perguntas para gerar reflexão a você, leitor.
Sempre tive uma boa relação com dinheiro e acredito, ele comigo. Sempre cuidei bem dele, até demais às vezes, principalmente quando o mantinha mais do que necessário perto de mim 🙂. Ele, por outro lado, foi sempre muito generoso e sempre sempre quando precisei ou precisamos como família ele aparecia, talvez como retribuição! E você, como é a sua relação com o dinheiro?
Finalizo com uma frase de Ralph Waldo Emerson, filósofo e poeta americano, “O dinheiro geralmente custa muito”.
E aí, está precisando de ajuda para ter uma melhor relação com o dinheiro? Para fazer ele transformar sua vida e trabalhar para você em vez do contrário? Marque um bate-papo inicial gratuito comigo aqui.
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Um abraço e obrigado pela leitura!
Henrique Cintra Ribeiro, CFP®