Educação financeira para filhos

Mais educação, não só financeira, para os filhos

Tempo de leitura: 7 minutos

Um dos nossos leitores nos mandou um e-mail sugerindo mais conteúdo sobre educação não só financeira para os filhos. Desde já, meu muito obrigado pela sugestão! Gosto muito desse tema, e gosto porque sei que muito do que aqui estará escrito são desafios para vocês e para mim também. Leio e ouço muito sobre esse tema e espero contribuir com algumas sugestões interessantes. 

A diferença entre querer e precisar

Até para nós, adultos, esse é um tema espinhoso. Fácil sair da boca que preciso disso ou daquilo em lugar de querer isso ou aquilo. Autoengano? Autossabotagem? Quantas vezes, dizemos que precisamos, mas a verdade é que só queremos e pronto! E a verdade, fica aonde? Todo mundo precisa de roupas, mas todo mundo precisa (negrito para reforçar) de 5 pares de tênis? Poderia parar por aqui pois o recado, creio, já foi dado, mas para as crianças precisamos diferenciar melhor e podemos fazer isso de algumas formas criativas. 

Podemos explicar que precisamos ir para a escola porque é preciso aprender sobre assuntos importantes para a nossa vida, assuntos que exigirão estudo e tempo para que possamos aprofundar-se nas disciplinas, aumentar nosso conhecimento geral sobre tudo que nos cerca. Na escola também, supostamente, aprenderemos a nos socializar, a fazer amigos, a saber somar e dividir (não relacionado à matemática). Por fim, aprenderemos a respeitar também os professores e colegas de classe. Portanto, ir à escola é preciso! 

E ir ao shopping center é preciso? Pode ser que sim, pode ser que não! Não acho que devamos ir ao shopping apenas por necessidade. Dá pra se divertir, entreter, passear, curtir e até relaxar num cineminha. O problema é quando a ida ao shopping sempre vem combinada com gastos não necessários. Se você tem sua vida organizada e esses gastos não influenciam em nada sua vida e seu planejamento, tudo bem também. 

A questão é que devemos fazer uma distinção na cabeça da criança. Ir ao shopping center toda semana e sair de lá com alguma compra desnecessária não é preciso, é algo que você quer. E tudo bem, se você puder. Você pode querer fazer isso para alegrar a criança de alguma forma, mas é diferente de precisar ir. O ideal é que a criança saiba que a ida é para curtir (sem que haja uma compra necessariamente) ou ir para comprar algo específico. Aproveite para contar e mostrar à criança que é possível ir ao shopping sem ter que comprar algo, ou seja, só para curtir.

Assim como precisamos comer todos os dias mas não precisamos de doces todos os dias, seria bom para a criança entender essa diferença. Aliás, se você quiser controlar melhor seus gastos, principalmente se estiver endividado, experimente se perguntar antes de comprar qualquer coisa: “eu preciso” ou “eu quero”? E se você adicionar: “eu devo comprar”? “Eu tenho dinheiro para comprar?” São dicas valiosas para quem achar que precisa controlar melhor as compras, sobretudo as impulsivas.

Decisões e consequências

É óbvio que nossas ações e decisões têm consequência, mas não ainda na cabeça das crianças. Como a educação financeira ainda não é uma praxe nas escolas em geral, só em algumas, a gente pode buscar explicar o impacto das decisões financeiras e suas consequências para os pequenos. Um bom exemplo é a compra de um carro à vista ou parcelado. Qual seria a diferença entre comprar um carro de R$100.000,00 parcelado em 48 vezes, com entrada de R$25.000 a juros de 1% ao mês? O valor total do veículo parcelado sairia por quase R$120.000,00 (simulação feita aqui). Comprando à vista, com desconto de 5% o valor sairia por R$95.000, ou seja, uma diferença de quase R$25.000 ou 25% do valor do veículo. 

Essa diferença, se bem explicada, pode ser o preço que se paga por antecipar uma necessidade ou um desejo. Ao contrário, se tivéssemos guardado dinheiro e investido, poderíamos esperar e comprar o carro com desconto. O exemplo da compra antecipada não precisa ser pejorativo, afinal de contas, o carro foi comprado por necessidade. Mas o impacto da decisão para um lado ou para o outro, precisa ter suas consequências explicadas, principalmente se for comprado por desejo em vez de necessidade.

A questão é fazer ficar claro na cabeça da criança que se tivermos paciência e disciplina de guardar o dinheiro, poderemos pagar bem menos do que o preço final em uma compra importante como um carro. Esse é o dilema que grande parte de nós adultos temos porque muitas vezes estamos com a cabeça no “a vida é hoje, amanhã não sei se estarei vivo” (olha as emoções entrando na equação). Essa clara falta de equilíbrio entre o presente e o futuro combinado com o peso de um evento aleatório ou uma tragédia injusta podem significar o início de uma vida de endividados. 

Generosidade

Alguns possíveis direcionamentos que podemos dar ao dinheiro quando recebemos nosso salário são: poupar/investir (gosto de chamar de “pagar-se primeiro”), pagar as contas, impostos e doar. “Doar faz bem para você também”. Foi assim que aprendi no passado. Confesso que posso ser melhor nessa área da minha vida, mas há o que se comemorar, pois estamos sempre buscando ser melhores todos os dias, certo? A Bíblia tem muitas passagens sobre doações, a que diz que não devemos nos vangloriar do que damos sempre me chamou mais atenção. Procurei aqui, fica em Mateus 6:3-4.

“Mas, quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará.”

Desse jeito fica difícil pensar em mostrar as doações para os filhos, mas penso que não há problema quando o que buscamos é deixar o exemplo para que eles o façam no futuro quando lhes couber. Na minha cabeça, a doação é uma forma de agradecimento a tudo que somos e possuímos, uma forma de gratidão a Deus e às coisas boas da vida.

Outra forma de generosidade que pratico é oferecer nosso sorriso, um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”. Ser generoso com a possibilidade de dar e receber atenção e, quem sabe, “abrir portas” para oportunidades que podem acontecer em nossas vidas quando somos educados. Resumindo, estarmos abertos a que uma nova conexão se faça a partir desse primeiro contato. 

Hoje em dia, mais e mais pessoas estão fechadas em suas vidas, em seus celulares e, principalmente as crianças e adolescentes precisam vivenciar melhor a comunicação e socialização entre as pessoas. A comunicabilidade e uma boa prestação de serviço ao cliente penso que serão muito mais valorizados no futuro por causa da tecnologia que nos inunda e nos mecaniza em quase tudo. Assim, se você puder ser um exemplo para o seu filho na comunicação com as pessoas, na disposição para um sorriso e um “bom dia”, que assim seja. 

Dinheiro fruto do trabalho e do sacrifício

Assim como no texto anterior, quando demos o exemplo da fala de que “dinheiro não dá em árvore”, creio ser muito importante ressaltar a importância do trabalho. De tempos em tempos, principalmente quando conquistamos algo em família, como uma viagem planejada, mencionar que a família está desfrutando daqueles dias memoráveis porque papai e mamãe trabalharam duro para conseguir dinheiro e tiveram a paciência e o objetivo de guardar e investir para aquele momento específico e importante da vida da família. A gente não pode dar a certeza, mas a chance de que essa memória das férias tenha sido vinculada ao sacrifício do trabalho e da poupança existe, principalmente se a família costuma ter eventos memoráveis todos os anos. Ressalte o trabalho duro, a conquista, a paciência e a disciplina necessários para que todos estivessem vivendo aquelas férias incríveis.

Como você pode ver, tenho uma linha um tanto conservadora sobre o trabalho. Minha visão é de que não há evolução na vida, desenvolvimento e sucesso (qualquer que seja ele) sem trabalho, sem abraçar a responsabilidade de trabalhar para alcançar o que quer que você se disponha a conseguir. Não há atalhos, meio caminhos ou apostas, você pode até ter a sorte de receber uma indicação ou oportunidade, mas se não estiver preparado para ela, talvez não adiante de nada. 

Cuidado com as apostas esportivas que estão consumindo muito dinheiro no Brasil e no mundo. Não é investimento, são apostas e no fundo nós sabemos quem são os ganhadores no final. Os algoritmos são criados para fazer você achar que pode ser um bom apostador. Uma armadilha e tanto para ludibriar aqueles que buscam retorno sem esforço, sem conhecimento, sem estudo e sacrifícios. Vem fácil, vai fácil. Pretendo fazer um texto sobre esse assunto das apostas esportivas, aguarde.

Tempo recíproco

Os pais precisam de tempo com os filhos e os filhos precisam de tempo com os pais, regra mais simples do que essa impossível! E mesmo assim é difícil hoje em dia conseguir investir tempo entre nós. Muito porque, mais uma vez, estamos sendo consumidos pela tecnologia. Antes, a concorrência era só com a televisão, hoje é com celulares, computadores, tablets, console de games. Eu, você, ele, ela, todos nós somos vítimas desse problema, não há heróis nesse enredo. 

Contra esse problema, aqui estabelecemos regras, a principal delas é que é proibido celulares na mesa, ponto! Seja em casa, seja na rua. Tivemos a sorte (não sei se esse é o melhor termo) de que nossos filhos reconhecem a necessidade dessa regra e a respeitam. A comunicação nesses momentos em família é essencial para a manutenção da harmonia, do diálogo, das perguntas e respostas, das indagações e até discussões. Não raro passamos de uma a duas horas durante os almoços de domingo em conversas descontraídas, conversas sérias, conversas sobre o passado e o futuro, risadas, brincadeiras, música, dança, curtição. Virou algo que todos queremos e fazemos questão de estar presentes e respeitar a regra. Sabemos que ela é valiosa porque o retorno desse tempo investido em nossos laços familiares vale mais que qualquer tempo em redes sociais ou Bitcoins.

Quem puder investir um tempo de curtição em família sem os celulares, ótimo e parabéns! Se conseguir fazer isso, diga ao seu filho ou filha que não trouxe o celular, assim perceberão que há vida sem celular. Tem gente que nem desliga o celular antes de dormir e é incapaz de deixá-lo fora do quarto. Já se perguntou o porquê?

Tempo é o ativo mais valioso que temos e o que mais negligenciamos, talvez por não sabermos ao certo quanto possuímos dele. As crianças na sua infinita ingenuidade suplicam, mais do que qualquer coisa, apenas por nosso tempo, nosso tempo só pra elas! Quanta sabedoria!

Precisando de ajuda para se organizar financeiramente, alcançar e prosperar na vida em família? Vamos marcar um bate-papo inicial gratuito para entendermos seu desafio financeiro? 

Dúvidas ou sugestões? Gostaria de sugerir um tema ou assunto? Por favor, escreva para contato@euqueroprosperar.com.br 

Um abraço e obrigado pela leitura!

Henrique Cintra Ribeiro, CFP® 

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