Livro Psicologia Financeira – Parte Final

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O capítulo quatorze da continuação do resumo do livro A Psicologia Financeira, de Morgan Housel, é sobre o fato de que “você vai mudar” e pontua o que falamos sobre a dinamicidade de nossos planos e a dificuldade que é fazer planejamento de longo prazo porque nossos objetivos e desejos mudam com o tempo. Para Housel, e nós já mencionamos em outros textos, as pessoas têm muita dificuldade em saber o que querem hoje, imagina no futuro. Essa equação acaba sendo mais difícil ainda pelo fato de o mundo estar em constante mudança, constante evolução, principalmente tecnológica. 

Ele cita um trecho do psicólogo de Harvard, Daniel Gilbert: …”nem sempre estamos contentes com as decisões que tomamos. Por isso, adultos pagam um bom valor para remover tatuagens caras pagas na adolescência. Pessoas de meia-idade correm para se divorciar de pessoas com quem jovens adultos correram para se casar. Idosos se esforçam muito para gastar o que as pessoas de meia-idade se esforçaram muito para ganhar. E assim por diante.”

Nossas vidas estão em constante mudança, por isso não deveríamos nos apegar a uma ideia específica sobre nosso futuro, planos, carreira, investimentos, qualquer coisa, porque as decisões que tomamos hoje podem influenciar alguém que não seremos amanhã. Aqui, trago um conceito muito importante nas finanças e na contabilidade, o de custo afundado (sunk costs), ele é bem difícil de se desapegar porque já gastamos tempo e dinheiro nele e temos dificuldade em aceitar que algumas coisas não podem mais ser mudadas, o que passou, passou. O que é bom para o nosso “eu” hoje, pode não ser bom para “ele” num futuro próximo. A única certeza que temos é que vamos mudar!

“Nada é de graça” é o tema do capítulo quinze e é aberto com a frase de que tudo tem um preço mas nem todo preço tem uma etiqueta. Ser um bom investidor requer um preço, em geral, alto para se conseguir, muito estudo, conhecimento, paciência e experiência. A nossa falta de habilidade de reconhecer que ser um bom investidor tem esse preço nos faz tentar ou apostar em coisas ou soluções gratuitas e baratas, o que é um grande perigo para nossos investimentos. 

Não há resultado relevante em investimentos sem este preço a pagar. Quanto mais aprendermos e buscarmos conhecimento, maiores serão as chances de conseguirmos melhores resultados. Se você não tem o tempo necessário para aprender é melhor pagar alguém para fazer isso para você e, mesmo assim, obviamente, haverá um preço a se pagar. 

Housel sugere olhar para a volatilidade do mercado que pode significar retornos maiores no longo prazo como uma taxa em vez de uma multa, ou seja, como algo normal dentro da perspectiva de todo investidor. Para ele, a melhor maneira de lidar com o sobe e desce do mercado e a incerteza é nos convencermos de que são uma taxa aceitável a se pagar, o que corrobora com o título do capítulo. 

O capítulo seguinte é “Você e Eu”, e é sobre tomar dicas financeiras de pessoas que estão “jogando” um jogo diferente do seu. Todo mundo tem realidades diferentes, perspectivas diferentes e inclusive visões de vida diferentes de como o mundo funciona. Não existe uma estratégia de investimentos que possa servir para todo mundo. Entender nosso próprio horizonte de tempo em vez de prestar atenção às ações e comportamentos de outras pessoas que estão jogando um jogo diferente do seu é uma tremenda armadilha. 

O autor pontua ser esse um dos motivos das bolhas ocorrerem. Segundo ele, a ganância das pessoas é o que move as bolhas, no caso da bolha imobiliária foram pessoas que tinham horizonte de longo prazo que decidiram escutar as dicas dos compradores de curto prazo que, obviamente, estão jogando um jogo diferente dos de longo prazo. Imagine termos em vez de um financiamento imobiliário, ter três? 

A sedução do pessimismo” é o tema do capítulo dezessete e é aberto com a frase de que o otimismo se parece a um discurso de venda, ao invés do pessimismo, que soa mais como alguém oferecendo ajuda. Para exemplificar, Morgan nos conta para dizermos a qualquer pessoa que tudo vai ficar bem e essa pessoa provavelmente vai dar de ombros. Por outro lado, diga que ela está em perigo e você terá toda a atenção dela. 

Uma comprovação clara que temos dessa diferença é a atenção que damos às perdas nos investimentos em detrimento dos ganhos. Já percebeu isso? Para Kahneman, psicólogo Prêmio Nobel de Economia, “essa assimetria entre o poder das expectativas ou experiências positivas e negativas tem a desculpa de fazer parte da nossa evolução histórica. Organismos que tratam ameaças como mais urgentes que oportunidades têm maiores chances de sobreviver e se reproduzir”.

Outros fatores fazem o pessimismo financeiro ser mais aceitável e comum que a persuasão do otimismo: o fato do dinheiro ser onipresente e as coisas ruins que acontecem tendem a afetar e chamar mais a atenção de todo mundo. Outro fator é que os pessimistas em geral extrapolam a tendência do momento sem considerar a adaptação dos mercados. Esse fator, segundo Housel, é contradito por uma lei de ouro na economia que diz que boas ou más circunstâncias extremas raramente ficam por longo período porque a oferta e a demanda se adaptam em maneiras muito difíceis de se prever. O terceiro fator é que o progresso acontece muito devagar para ser notado e os contratempos e crises, por outro lado, acontecem mais vezes e, por isso, não são ignorados. “O mundo está cheio de tragédias do dia pra noite, milagres, porém, nunca acontecem da mesma forma”. Housel traz o exemplo da criação do avião pelos irmãos Wrights, que foram subestimados pela imprensa por mais de 4 anos até que o mundo começou a saber do sucesso absoluto da invenção deles.

Por fim, o crescimento dos investimentos é guiado pelos juros compostos, que sempre tomam muito tempo. A destruição, por outro lado, é guiada por eventos específicos, que podem acontecer em segundos, assim como a perda de confiança que pode se esvair em instantes.

O capítulo dezoito é sobre “quando você vai acreditar em qualquer coisa” como ficções atraentes e porquê histórias são mais poderosas que estatísticas. Segundo Housel, as histórias que contamos para nós mesmos ou as narrativas que queremos acreditar são muito poderosas mas raramente baseadas em fatos da realidade. Dependendo do que contamos para nós mesmos, qualquer coisa é possível, até mesmo criar uma realidade de algo que não existe. 

No nível pessoal, há duas coisas que devemos ter em mente: saber das histórias envolvendo o gerenciamento de nossas finanças pessoais. Primeiro, quanto mais queiramos que algo seja verdade, mais acreditaremos nas histórias que aumentam a possibilidade de serem verdade. Nesse contexto, é preciso estar mais atentos ainda quando estamos sob fortes emoções. O autor traz o exemplo de um senhor cujo filho estava doente, Ali Hajaji. Os mais velhos da sua Yemeni vila sugeriram que ele enfiasse a ponta de um galho queimado no peito do filho para tirar a doença do corpo dele. Depois do procedimento, Hajaji contou ao The New York Times que “quando você não tem dinheiro e seu filho está doente, você vai acreditar em qualquer coisa”.

Segundo, todo mundo tem uma visão incompleta do mundo, mas formamos uma narrativa completa para colocar nas lacunas que faltam.  Segundo o psicólogo Philip Tetlock, “nós precisamos acreditar que o mundo que vivemos é previsível, controlável e é por isso que aceitamos pessoas que soam autoritárias mas que prometem satisfazer essa nossa necessidade”. Para Morgan, a ilusão do controle é mais persuasiva do que a realidade da incerteza que temos sobre nossas finanças, por isso é que tendemos a acreditar naquilo que pensamos que podemos controlar. Dessa forma, acabamos focando naquilo que sabemos e negligenciamos o que não sabemos o que acaba nos fazendo super confiantes nas nossas crenças. 

O décimo nono capítulo é sobre “agora tudo junto”, ou seja, tudo que aprendemos sobre a psicologia do nosso próprio dinheiro. Como é um compilado dos capítulos que já tratamos, vou pular direto para o vigésimo que são as “confissões” sobre a psicologia do dinheiro do próprio Morgan.

Para o autor, importantes decisões financeiras não são feitas em planilhas ou em livros de texto, elas são tomadas na mesa da cozinha. Geralmente, elas não são tomadas visando o melhor retorno financeiro, mas minimizando as chances de decepcionar uma esposa(o) ou filhos e essas coisas são muito difíceis de resumir porque variam de pessoa a pessoa e o que funciona para alguém não necessariamente funcionará para outra pessoa. 

Como a família dele pensa sobre economizar (poupar)? Para ele, a independência (poder fazer o trabalho que gosta, com as pessoas que gosta no tempo e pelo tempo que quiser), em qualquer nível de renda, é direcionada pela nossa taxa de poupança, ou seja, o percentual de dinheiro economizado do nosso salário. Buscar viver confortavelmente abaixo do que podemos, sem muito desejo por mais, removendo a grande pressão social que a maioria das pessoas sucumbe. O objetivo deles não é ter decisões friamente racionais ou calculadas, mas psicologicamente razoáveis. 

Como a família dele pensa sobre investir? Ele confessa que não sabe se foi um bom investidor em ações, pode ter sido, mas agora decidiu só investir em ações através de fundos de índice de custo baixo, ou seja, com baixa taxa de administração. Os fundos de índice são os famosos ETFs – Exchanged-Traded Fund, que podem ser comprados na bolsa de valores. Ele explica que se podemos alcançar nossos objetivos sem os riscos adicionais de tentar ganhar do mercado, para que cair na tentação de mesmo tentar? Segundo ele, a gente pode não ser um excelente investidor, o que não podemos é ser um investidor muito ruim. 

“Minha estratégia de investimentos não está em escolher o setor correto ou saber quando vai ser a próxima recessão. Ela está na minha taxa de poupança, paciência e otimismo de que a economia global vai criar valor nas próximas décadas. Eu gasto todo meu esforço mental nessas três coisas, especialmente nas duas primeiras, que eu posso controlar.

Eu mudei minha estratégia de investimentos no passado e isso pode voltar a acontecer de novo no futuro. 

Não importa como ou quanto nós economizamos ou investimos, eu tenho certeza que sempre teremos o objetivo da independência, e que também faremos tudo possível para maximizar a chance de dormir em paz de noite. A gente pensa que esse é o nosso objetivo final em que dominamos a psicologia do dinheiro. Mas cada um do seu jeito. Ninguém é maluco”.

O livro tem mais um capítulo pósfácio sobre por que o consumidor americano pensa da forma que pensa. Acho que não vem ao caso para o nosso objetivo do blog. 

Morgan Housel tem um excelente podcast: “The Morgan Housel Podcast”, onde ele fala sozinho sobre tudo isso que vimos nos três textos e mais assuntos interessantes relacionados ao tema de finanças pessoais, está em inglês mas ele tem um jeito de falar bem pausado, taí uma boa dica para aprender sobre a psicologia do dinheiro e ainda praticar sua escuta/audição em inglês.

Precisando de ajuda com suas finanças pessoais? Quer ter uma relação mais saudável com o dinheiro? Precisa se organizar, sair das dívidas, começar a investir, diversificar investimentos e prosperar não duvide em me chamar para um bate-papo inicial gratuito aqui.

Dúvidas ou sugestões? Gostaria de sugerir um tema ou assunto? Por favor, escreva para contato@euqueroprosperar.com.br 

Um abraço e obrigado pela leitura!

Henrique Cintra Ribeiro, CFP®

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