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Continuando o nosso resumo do livro de Morgan Housel, A Psicologia Financeira, entramos no capítulo 8 sobre “O paradoxo do nosso carro”, que o título pode parecer que se refere apenas ao carro do homem, mas, na verdade, podemos generalizar, pois isso acontece com todos nós, homens e mulheres. É bem curto e meio que um tapa na cara, porque ele afirma que ninguém se impressiona com os nossos bens, no caso os carros caros, mais do que nós mesmos. As pessoas tendem a buscar riqueza, objetos ou bens caros para conseguir o respeito e a admiração dos outros. Na realidade, porém, quem olha ignora essa admiração, não porque a riqueza não é admirável, mas porque as pessoas usam essa riqueza como medida de comparação pelo desejo próprio de serem respeitadas e admiradas. Para Housel, humildade, gentileza e empatia vão trazer mais respeito do que qualquer motor potente de um carro.
O capítulo 9 trata de que “A riqueza está no que não vemos” e isso é uma das tantas ironias do dinheiro. A riqueza está escondida, ela está nos ativos financeiros que não foram ainda transformados em coisas que podemos ver. É renda não gasta, é uma opção ainda não feita para gastar em algo depois, no futuro. O valor da riqueza está em oferecer opções, flexibilidade e crescimento para comprar mais coisas além das que você poderia comprar hoje. É óbvio que estamos rodeados de pessoas que mostram suas riquezas aos montes, genuinamente ou não, pois é bem difícil saber se não são resultado de alavancagem financeira ou dívidas. Para ele, a fórmula simples para a riqueza é gastar dinheiro que temos e não o dinheiro que não temos, ou seja, por meio de dívidas.
“Economize” é o tema simples do décimo capítulo e para Morgan é uma maravilha o fato de ser o único fator que podemos controlar e a única coisa que realmente importa. Segundo ele, depois de um certo nível de renda há três grupos de pessoas: as que economizam, aqueles que pensam que não podem economizar e aqueles que não acham que precisam economizar. A primeira ideia é que construir riqueza/fortuna tem muito pouco a ver com o seu salário ou retorno dos investimentos e muito mais a ver com o seu percentual de economia de salário. A segunda é tão importante quanto a primeira e diz que, após um certo nível básico de renda, o que precisamos é gerenciar o nosso ego pois ele quer sempre se aproximar ou ultrapassar a nossa capacidade, nossa renda e que, para isso, vamos precisar aumentar nosso nível de humildade. Visão bem interessante, não? Para o autor, as pessoas com duradouro sucesso financeiro não são necessariamente aqueles com grandes salários, são aqueles que têm propensão a não ligar a mínima para o que os outros pensam deles.
A habilidade de economizar está mais no nosso controle do que a gente pensa. Você pode gastar menos, e vai conseguir gastar menos desejando menos e pode desejar menos se você se importar menos com o que os outros pensam de você. Por causa desse trecho anterior é que Housel reforça que o dinheiro está muito mais ligado à psicologia do que com as finanças.
Tem um ponto que eu tendo a discordar de Housel, quando ele diz que não precisamos necessariamente de razão para economizar. Para ele, economizar para um objetivo específico só faz sentido num mundo previsível, ou seja, tudo o que o nosso não é. Meu ponto aqui é que podemos sim fazer um planejamento e buscar atingir os objetivos que nos propomos. Planejamento financeiro não é nada estático ou fixo, ele é dinâmico e maleável de acordo com nossa vida que muda todos os dias, disso não há dúvida. Quando a vida mudar, seu planejamento muda junto! Como eu já disse anteriormente, simplesmente economizar ou investir sem objetivos é muito melhor que não fazê-los, nisso estamos 100% de acordo! 🙂 Housel complementa que economizar sem um objetivo específico nos traz flexibilidade e opções, a possibilidade de esperar a oportunidade aparecer. Embora eu concorde, creio que também abre possibilidade de sucumbir a consumo por impulso, sem um objetivo em mente, em tese, o dinheiro pode servir para qualquer coisa, sejam boas ou não para sua vida. Uma “oportunidade” mal pensada e não refletida pode significar a ruína, infelizmente.
Esse capítulo é longo, mas preciso citar a diferença que o autor traz sobre o tangível e o intangível que o dinheiro traz. Todo mundo sabe o que o primeiro representa, as coisas que compramos, importantes ou não; o intangível, contudo, é mais difícil e tendemos a não notá-lo. O benefício das coisas intangíveis que o dinheiro traz são muito mais valiosos e capazes de afetar nossa felicidade com mais facilidade, como a flexibilidade e controle sobre o nosso tempo, que é um retorno intangível direto da nossa riqueza.
Capítulo onze faz um paralelo entre a “razoabilidade > racionalidade”, onde Housel busca nos convencer de que é muito melhor sermos razoáveis nos investimentos que buscar racionalidade o todo tempo. “Não somos uma planilha, somos pessoas, pessoas com emoções e dúvidas ”. Para o autor a gente não pode buscar ser friamente racionais quando tomamos decisões financeiras, deveríamos ser só bem razoáveis. A razoabilidade é mais realista e, dessa forma, teríamos mais chances de continuar investindo por mais tempo e que isso é o que importa quando tratamos em gerenciar nossas finanças (volta-se à questão da importância de se manter no mercado em vez de tentar saber a hora de entrar ou sair).
Para reforçar essa visão, ele traz o exemplo da contradição que temos quando estamos com alguma infecção. Embora saibamos que a febre é uma defesa do nosso organismo contra a infecção, tomamos anti-febril, que impede os sintomas da febre. Fazemos isso porque a febre traz dor para o corpo, ou seja, não é racional mas é razoável, pois queremos evitar a dor.
E o que é essa razoabilidade que Morgan cita? Diversificação. Ora, se não conseguimos ser racionais e escolher as melhores ações durante todo o dia, o tempo todo, ou ter a certeza dos resultados, mesmo que hajam evidências (embora elas possam falhar de tempos em tempos) devemos simplesmente diversificar nossos investimentos, trazendo razoabilidade para o portfólio.
“Surpresa” é o tema décimo primeiro e fala sobre a ironia que existe no mundo dos investimentos quando vemos coisas que nunca aconteceram antes acontecerem o tempo todo, porém teimamos em utilizar o passado como predição do futuro nos investimentos, pois olhamos os resultados anteriores dos ativos buscando confirmação de serem bons investimentos. Para Housel, essa é uma armadilha que muitos investidores caem e que ele se refere à falácia dos “historiadores como profetas”, que se baseiam excessivamente em dados passados como sinal de condições futuras, e pior, num campo onde a inovação e a mudança constante são o sangue do progresso. Segundo o autor, entretanto, não podemos colocar a culpa nos investidores por fazerem isso, já que geologistas olham por dados históricos de bilhões de anos, também os meteorologistas, e mesmo médicos.
Outro ponto para ele é que possuir experiência por ter passado por certos eventos não necessariamente nos qualifica para saber o que vai acontecer; na verdade, isso raramente acontece porque a experiência muitas vezes nos leva ao excesso de confiança mais do que a nossa habilidade de estimar resultados futuros.
Para Housel, o correto seria admitir que o mundo atual é muito difícil de ser previsto, a surpresa é uma constante e a história pode ser um guia errôneo para prever o futuro da economia e dos mercados financeiros pois ela não considera as mudanças estruturais relevantes que acontecem no mundo de hoje. Exemplificando: a competição aumenta quando as oportunidades aparecem, a tecnologia fez a informação mais acessível, as indústrias mudaram quando a economia passou de setores industriais para os de tecnologia, que possuem diferentes ciclos de negócio e uso de capital. Por fim, usar a história como estimativa para efeitos futuros também não considera a possiblidade de “cisnes negros” acontecerem, uma alusão ao livro com o mesmo título, do autor Nassim Taleb, onde ele explica que eventos específicos e não esperados, os “cisnes negros”, podem mudar tudo!
O capítulo treze pode-se dizer que é um pouco repetitivo pois traz a ideia do “espaço para o erro”, algo que já falamos no capítulo cinco sobre ter uma reserva para se o plano não sair conforme previsto. Para ele, a parte mais importante de qualquer planejamento é planejar para se o plano não sair de acordo com o planejado. A sabedoria em deixar espaço para o erro, de acordo com Morgan, é que estamos reconhecendo a existência da incerteza, da aleatoriedade ou da chance do desconhecido fazer parte das nossas vidas. Seria uma forma eficiente de navegar um mundo governado por possibilidades e probabilidades e quase nenhuma certeza.
Nós podemos arriscar em nossos investimentos, não há dúvida sobre isso, na verdade é até aconselhável ter uma parte de nosso portfólio em ativos de risco, só precisamos descobrir que percentual aceitável é esse de acordo com o seu nível de aceitação ao risco e seu tempo disponível para o dinheiro. O que devemos evitar a qualquer custo é ter o portfólio inteiro em risco, isso nunca devemos fazer, jamais! O livro traz o exemplo da roleta russa, as chances estão do seu lado, já que você tem 84% de chances de não acertar a bala e 16% aproximado de acertar a bala, vale o risco? De jeito nenhum! Não há espaço para o erro nesse caso, nada pode compensar esse risco. Por isso, não podemos estar “all in”, sempre há que haver espaço para o erro. O perigo é que o otimismo, na maioria das vezes, mascara as chances de ruína e o resultado é que a gente acaba sistematicamente subestimando o risco.
Housel finaliza o capítulo citando que o nosso maior ponto de fracasso com dinheiro está na confiança cega no salário/contracheque para pagar as nossas necessidades de curto prazo, ou seja, sem nenhuma economia para criar um espaço entre o que achamos que nossas despesas são com o que elas podem ser no futuro. Terminaremos o livro na próxima semana.
Precisando de ajuda com suas finanças pessoais? Quer ter uma relação mais saudável com o dinheiro? Precisa se organizar, sair das dívidas, começar a investir, diversificar investimentos e prosperar não duvide em me chamar para um bate-papo inicial gratuito aqui.
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Um abraço e obrigado pela leitura!
Henrique Cintra Ribeiro, CFP®