Livro Psicologia Financeira – Parte 1

Tempo de leitura: 6-8 minutos

Com milhares de livros interessantes para ler na vida, por que “perder o tempo” lendo mais de uma vez o mesmo livro? Pois é, já me fiz essa pergunta algumas vezes. Acho que a resposta está no fato de que o livro é tão bom, tão importante para o que fazemos e gostamos, os personagens são tão memoráveis, ou mesmo o livro é tão significativo para o momento que estamos vivendo que vale muito a pena revivê-lo. Você já chorou lendo algum livro? Experimente “ O Caçador de Pipas” de Khaled Hosseini. Eu poderia assegurar que vai te surpreender. Ou talvez o livro que li com meu filho de 11 anos, no ano passado, infelizmente não encontrei tradução em português, “We are Wolves”, da escritora Katrina Nannestad, minha tradução seria “Nós somos Wolves”, o Wolves do livro não se refere ao animal, mas ao sobrenome dos protagonistas, fantástico! Se você estiver lendo em voz alta, no final eu duvido que a voz não embrulhe de tão emocionante.  

No Natal passado, recebi de presente do meu filho mais velho o best-seller com mais de 5 milhões de cópias vendidas do Morgan Housel, “The psychology of Money: timeless lessons on wealth, greed, and hapiness”, traduzido no Brasil como “A psicologia financeira: lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade”. Já tinha lido no Kindle em português, mas nada como um livro físico para chamar de seu, né? Vou trazer minhas notas pessoais sobre o livro, o qual é recheado de exemplos da vida real, mas que evitarei citá-los (embora não dê pra deixar de fora alguns) para não ficar extenso. São 20 curtos capítulos, vamos lá!

Na introdução, Housel começa falando o que quase todos nós, no fundo, já sabemos (mas agimos como se não soubéssemos): o modo como lidamos com dinheiro não tem nada a ver com conhecimento, com o que lemos ou estudamos sobre finanças, e sim tudo a ver com nossas emoções e, em alguns casos, sorte. De nada adianta saber o que fazer com o dinheiro, como os economistas supostamente sabem (e mesmo assim se endividam aos montes), se, no final, o que conta, na realidade, é a história da ganância, da nossa insegurança ou do otimismo que carregamos. Segundo ele, quanto mais ele estuda e escreve sobre crises financeiras mais se certifica de que poderíamos entendê-las melhor com as lentes da psicologia e da história do que pelas lentes das finanças.

No primeiro capítulo intitulado “ninguém é doido”, ele chama esse capítulo assim porque muita gente passa por situações loucas com o dinheiro, mas afirma que ninguém é realmente louco. Housel conta que a nossa relação com o dinheiro é largamente baseada nas nossas próprias experiências pessoais de vida, experiências de comportamento e emoções, nada que ver com inteligência ou conhecimento. Ora, se sabemos que usar limite do cartão de crédito é terrivelmente caro, porque usamos? Difícil encontrar resposta na racionalidade. Para o autor, em algumas situações, as pessoas precisam experimentar antes de entender. “Toda decisão que as pessoas tomam com o dinheiro é justificada pela informação que ela tem no momento e plugada no modelo mental único de como o mundo é para ela”. Ele traz o exemplo do bilhete de loteria e cita que, nos EUA, os americanos gastam mais em loteria que em filmes, games, música, eventos esportivos e livros juntos! E quem são os que mais gastam nisso? Os mais pobres. Aqui ele cita o seguinte comentário de um cidadão: “comprar um bilhete de loteria é o único momento da vida que se pode segurar um sonho tangível de conseguir as coisas boas que as pessoas já possuem mas que não valorizam (take for granted)”.

O autor  explica que nosso moderno sistema financeiro, esse processo de poupar, investir, produtos de investimentos, guardar dinheiro para aposentadoria, tudo isso tem por volta de 50 anos apenas e que, por isso, não deveria ser surpresa pra ninguém que não sejamos bons nisso. Isso acontece porque somos principiantes ou novatos no assunto! Inclusive financiamentos imobiliários, cartões de crédito e empréstimos para compra de carro só apareceram depois da segunda guerra mundial. 

No segundo capítulo sobre “sorte e risco”, Housel exemplifica Bill Gates como um extremo resultado da sorte. Na época em que tinha 13 anos, na 8a série, Gates foi para uma das únicas escolas no mundo que tinha um computador, isso em 1968, e explica que isso foi preponderante para que ele alcançasse o que ele foi com a Microsoft. Segundo o próprio Gates, “se não fosse Lakeside (o nome da escola) não haveria Microsoft” (o livro inclusive mostra os cálculos de que essa sorte foi de uma em um milhão). Lá ele conheceu seu grande amigo Paul Allen e um outro igual ou mais inteligente que os dois, Kent Evans. Infelizmente, porém, Evans morreu aos 15 anos ao praticar montanhismo. Todos os anos, morrem fazendo montanhismo por volta de 3 dúzias de adolescentes nos EUA, ou seja, um outro exemplo do acaso, nesse caso, um grande azar ou melhor, um evento extremo de risco. Housel ressalta que  sorte e risco são ambos realidade de que qualquer resultado na vida pode ser guiado por forças diferentes das do nosso esforço individual. “O mundo é muito complexo para que 100% das nossas ações ditem 100% dos nossos resultados”.

Esses casos extremos, seja para o sucesso ou fracasso, mostram que não devemos tomá-los como regra; são exceções e podem ser resultado de sorte ou risco. O ideal é olharmos para padrões mais comuns de sucesso ou insucesso pois esses é que são mais aplicáveis à nossa vida. Não dá pra esquecer, entretanto, que esses extremos é que ganham as manchetes de notícias.

“Nunca é suficiente” é o capítulo cuja essência mostra que é muito difícil para as pessoas saber o quanto é suficiente, pois nunca estamos satisfeitos com o que temos e sempre haverá alguém em melhor situação financeira do que nós. A pegadinha aqui é refletir sobre de que adianta definir um valor específico de investimentos ou de patrimônio para um ano se esse número será aumentado no próximo ano, já que sempre queremos mais e mais. Confesso que já fui presa dessa armadilha lá no início da minha vida de investidor. Hoje, consigo definir objetivos de curto, médio e longo prazos sem comprometer minha aposentadoria, essa é a ideia do planejamento financeiro. 

Na minha opinião, é disso que se trata, ter a liberdade e capacidade de ser o condutor da sua vida financeira e estabelecer objetivos que busquem também trazer experiências de vida para você e a sua família, e deixar de apenas estabelecer números como objetivos.

“Confundindo os juros compostos” é o próximo tema do capítulo quatro e não posso deixar de citar o dado com o qual o autor abre o texto: “$81.5 bilhões dos $84.5 bilhões do patrimônio líquido de Warren Buffett vieram depois que ele completou 65 anos de idade. Nossas mentes não são feitas para aceitar esses absurdos”. Tempo e não retorno é o principal fator que faz investir ser algo que cresce e perdura. Aqui trago uma máxima do mercado financeiro e que ilustra bem esse resultado do Buffett: “time in the market, not timing the market”, ou seja, tempo investido no mercado financeiro em vez de tentar saber o melhor momento de entrar ou sair do mercado financeiro. Assim, investir bem não é buscar o melhor retorno (aumentando riscos) é ter bons retornos com os quais  possamos manter nosso dinheiro pelo maior período de tempo possível, aí é quando os juros compostos mostram sua faceta “wild” – selvagem. 

O quinto capítulo é sobre “conseguir fortuna vs. manter fortuna”. Housel cita dois exemplos de indivíduos que conseguiram um nível de riqueza/fortuna tão grande na época da Grande Depressão, apostando exageradamente no mercado de ações, mas que acabaram desastrosamente perdendo tudo eventualmente e, inclusive, suas vidas, por não aguentar a vergonha do fracasso. Uma coisa é conseguir ficar rico, conquistar uma fortuna; outra, é mantê-la. Para ele, é preciso ter a mentalidade de sobrevivência, que foi o que fez Buffett ter longevidade, não só na idade, mas também nas suas finanças. Investir consistentemente desde os 10 anos até seus 89, isso é o que fez ele manter-se bilionário e esse é o ponto principal na história de Buffett. Se prevenir de não cometer um movimento desesperado no mercado pode fazer mais para o seu retorno financeiro do que escolher uma dúzia de grandes ações vencedoras. 

 O autor também destaca que devemos nos planejar, sem dúvida, mas a parte mais importante de qualquer planejamento é planejar para caso de o plano não sair como esperado. “Um plano só faz sentido se sobreviver à realidade. E o futuro, cheio de incertezas, é a realidade de todos nós”. O ponto crucial aqui é que devemos ter margem para erro, nossa famosa reserva de emergência ou colchão de segurança, que o livro a trata como uma das forças mais subestimadas nas finanças pelas pessoas. Podemos e devemos ser otimistas, mas isso não pode nos impedir de ser cuidadosos. Como dizia meu finado pai: “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

“Cara, você ganha”, uma alusão ao jogo de escolha cara ou coroa; embora ele use o termo “tail”, cauda. Segundo Housel, podemos estar errados a metade do tempo e mesmo assim fazer uma fortuna. “Nosso sucesso como investidor vai ser determinado pela nossa resposta a momentos pontuais de medo, não pelos anos de céu de cruzeiro”, ou pela calmaria. Em outras palavras, um bom investidor é aquele que fica na dele ou que faz movimentos não bruscos quando todos os outros ao seu lado estão arrancando os cabelos. Para o autor, estar na cauda é o que traz valor, é o que importa. Precisamos nos manter no mercado consistentemente; dentro da realidade do brasileiro eu diria que devemos investir mensalmente, sempre, mesmo que de pouquinho em pouquinho. Aqui acrescento, o importante é manter o hábito de se pagar primeiro, mensalmente, investir nem que seja R$1.00!

“Liberdade” é o tema do sétimo capítulo e para Housel a maior forma de riqueza é a habilidade de acordar toda manhã e ter a possibilidade de dizer que pode fazer o que quiser naquele dia. As pessoas buscam riqueza para serem mais felizes. A felicidade, no entanto, é um assunto complicado porque todo mundo é diferente, mas o denominador comum na felicidade é que as pessoas querem ter controle sobre  suas vidas. Morgan cita o autor do livro “30 lições para viver melhor”, do gerontologista Karl Pillemer, que entrevistou 1000 americanos na “melhor idade”. O resultado da pesquisa mostra que o que os entrevistados mais valorizavam era a “qualidade de suas amizades, ser parte de alguma coisa com significado maior do que eles mesmos, gastar tempo despretensioso e de qualidade com os filhos”. Para Pillemer, nossos filhos não querem dinheiro (ou o que o dinheiro compra) nada comparado a ter você, especificamente ter você com eles.

Meus dois centavos (oi, aqui é o Henrique escrevendo, não uso Inteligência Artificial): na era do celular é quase impossível não perder tempo com ele, eu perco, você perde, todo mundo perde. O que você quer para sua vida? Fazer, construir, ser, estabelecer o que faz sentido para você. Poderia dar dezenas de exemplos: fazer uma viagem por ano em família, ter mais tempo com os filhos, ter mais tempo pra você mesmo, ler mais, ler com os filhos, abraçar mais vezes quem você ama e também dizer “eu te amo” mais vezes, comprar uma casa/apartamento mais confortável para família, fazer uma pós-graduação no exterior ou um curso de línguas, um ano sabático, trocar de carro, reformar a casa, escrever um livro, abrir um negócio, sair do endividamento, garantir uma melhor aposentadoria ou pelo menos buscar saber se terá valor suficiente para se aposentar. Exponha para você mesmo seu desejo ou objetivo, escreva-os numa folha de papel e trabalhe para alcançá-los dando um passo após o outro. Perca tempo, mas seja o condutor da sua vida, não deixe que o próprio tempo o seja.

Vou quebrar o resumo do livro em 3 partes, pois ele é cheio de significado e quanto maior o texto menor a chance de você terminá-lo e a culpa não é sua, infelizmente essa é a realidade que vivemos.

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Dúvidas ou sugestões? Gostaria de sugerir um tema ou assunto? Por favor, escreva para contato@euqueroprosperar.com.br 

Um abraço e obrigado pela leitura!

Henrique Cintra Ribeiro, CFP®

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